domingo

DE EL BOLSÓN A EL CALAFATE

DIA 8 - CHEGANDO AO MAR DA PATAGÔNIA
17 de novembro de 2012, sábado - DE EL BOLSÓN A TRÊS CERROS - 1088 km rodados no dia de hoje.
Vou começar o relato falando de coisas que me esqueci de abordar ontem. 
a) PARALELO 42 - Todas as cidades abaixo do Paralelo 42 possuem subsídios tributários, que fizeram a gasolina argentina cair cerca de 2 pesos o litro, que abaixou para algo em torno de R$ 1,90/l. Em El Bolsón tomamos uma cerveja artesanal maravilhosa, chamada Araucana, produzida na própria cidade. Ficamos hospedados no hotel Amancay (R$ 127,00; nota 5) que, apesar de oferecer serviços abaixo do esperado, possui estacionamento privativo e fica bem perto do centro da cidade.
b) CADÊ O VENTOS? - Hoje deveríamos ter entrado na "região dos ventos", 850 km atrás, mas isso não aconteceu. Os ventos, que eram certos a partir de Esquel, desapareceram nos últimos 4 dias. Passamos pela região achando tudo muito estranho, porque na minha viagem de 2009 este foi o trecho que a ventania pegou muito forte. Chegamos por volta das 13 horas à Ruta 3, por Comodoro Rivadávia, conhecida como "La Ciudad de los Ventos", com uma brisinha mixuruca vinda dos Andes que mal dava para sentir. Rivadávia fica no oceano Atlântico e chegar lá trouxe uma emoção particular. Estávamos no oceano Pacífico (na Ilha de Chiloé) há 3 dias, e ter atravessado lateralmente o continente, em tempo tão curto, trouxe certo sabor de conquista.
c) Wandeco ficou desolado com a falta de ventos até aqui, mas a culpa é dele! Este cabra é reconhecidamente o motociclista mais sortudo de todos nós. Um verdadeiro Talismã (como diz a Rosane, minha querida companheira, que ficou em Brasília). Toda vez que ele sobe numa moto para viajar, se estiver chovendo, a chuva para; se estiver calor, o tempo esfria (e vice-e-versa). Não poderia ser diferente: - "Os ventos da Patagônia pararam para Wandeco passar!!!!!!!!". Até agora: nada de frio, nada de calor, nada de chuva e nada de vento. A neve que esperávamos encontrar só pôde ser vista nos cabelos do Wandeco e no topo das montanhas.
d) Vir ao "Fim do Mundo" e não enfrentar uma boa ventania é como ir a Roma e não visitar o Vaticano. Wandeco encara esta viagem como um desafio e, até aqui, tudo está "tranquilo demais" para quem veio preparado para encarar ventos e frio extremos. Quem sabe as coisas mudam a partir de amanhã?
d) Paramos para dormir em 3 Cerros, um lugar no meio do nada em pleno deserto patagônico. Esta é a terceira vez que durmo aqui, num hotel grudado ao posto da YPF, que nos custou 262 pesos (R$ 110,00, nota 5). Este local não é um município, mas uma paragem: com posto de gasolina, hotel, restaurante e oficina/borracharia.

 (visual entre El Bolsón e Esquel)
 (Wandeco na estrada)
 (Ruta 40, a rodovia mais importante da Patagônia)
 (Sarmiento, o maior centro paleontológico da Argentina)
(Sol nascendo em 3 Cerros)
 (Chegando ao oceano Atlântico)
(Calleta Olivia, monumento ao Petroleiro)

DIA 9 - CHEGANDO A EL CHALTÉN
18 de novembro de 2012, domingo - DE TRÊS CERROS A EL CHALTÉN (Cerro Fitz Roy) 912 km rodados no dia de hoje.
a) GUANACOS E MAIS GUANACOS - Bastou andar 20 km a partir de 3 Cerros para que os Guanacos começassem a aparecer nas bordas da rodovia (Ruta 3). Bichinhos ariscos e lindinhos que habitam as plagas patagônicas, mas que podem pular na nossa frente sem qualquer aviso. Um verdadeiro perigo para quem anda de motocicleta. Os Guanacos são camelídeos selvagens da mesma família da Lhama, Vicunha e Alpaca, que existem em grande quantidade no Cone Sul. A caça é proibida e sua população só tende a crescer ano após ano.
b) Descemos a Argentina pela Ruta 3, margeando o oceano Atlântico, antes de mudar de rumo para a direita (Ruta 5), sentido Cordilheira dos Andes. Demos uma boa parada em Puerto San Julian para visitar a réplica da caravela de Fernão de Magalhães (aquele que fez a primeira viagem de circunavegação da Terra). Durante a viagem, houve um motim na expedição de Magalhães exatamente na baía de San Julian, em 1520.
c) OS VENTOS FORTES CHEGARAM - Até ontem os ventos não haviam aparecido, mas hoje o bicho pegou para valer! Andávamos pela Ruta 3 muito tranquilos, sem vento ou frio, mas bastou mudar de rodovia, Ruta 5 (sentido El Calafate), para que o vento aparecesse bastante raivoso. Acho que queimei a língua no relato de ontem. Fechamos o dia de hoje pilotando cerca de 7,5 horas sob vento intenso, algo em torno de 650 km rodados. Inicialmente, pegamos 70 km de ventos laterais de 59 km/h (medidos pelo Skywatch), mas depois a turbulência amainou um pouco, caindo para abaixo dos 40 km/h. Acho que neste trecho o consumo da minha moto foi inferior a 10  km/l. O resultado está no item seguinte.
d) FIQUEI SEM GASOLINA - Tínhamos 324 km sem postos de combustível para rodar. Poderíamos ter ido 30 km além do entrocamento da Ruta 3 com a Ruta 5 (que nos faria andar 60 km à toa) para abastecer, mas resolvi apostar na sorte. Andávamos devagar e acreditei que a autonomia da minha moto seria suficiente para este trecho. Porém, todavia, contudo e entretanto, não contávamos que ventos tão fortes aparecessem de supetão, produzindo seus efeitos: fiquei sem combustível, com o odômetro parcial marcando 289 km. O GPS indicava um posto 35 km adiante, em El Esperanza. Wandeco seguiu para lá, para comprar gasolina para mim. A Teneré 1200, além de mais potente, consome 40% a menos que a VStrom. Fiquei na estrada esperando meu amigo voltar com o combustível para seguirmos viagem. Passou meia hora, 40 minutos, 1 hora e nada de Wandeco aparecer. Era difícil acreditar que ele demorasse tanto para fazer míseros 35 km de ida e volta. Pensei com meus botões: "Viche, a gasolina da moto dele também acabou!" Eu já estava pensando em parar um carro na rodovia para pedir socorro, quando um grupo de argentinos em 9 motos, a caminho de Ushuaia para o Encuentro de Motoviajeros del Fin do Mundo, parou para me socorrer. Os motociclistas, bastante solícitos, me cederam 5 litros de gasolina, muito mais do que eu precisava. Quando estava dando partida para seguir adiante, Wandeco chegou. A razão da demora dele era a fila no posto de gasolina em El Esperanza. Uma coisa de louco! É o primeiro posto de combustível neste trecho e não há como escapar das filas.
e) SOBRE VENTOS - Eu trouxe o Skywatch Xplorer2, aparelho muito usado por alpinistas e extremamente preciso, para medir a velocidade dos ventos, temperatura e sensação térmica. Pilotar em ventos abaixo de 40 km/h não chega a ser um desafio difícil. Acima dos 50 km/h o bicho pega! Sinceramente, não conseguiríamos superar a  turbulência de hoje se a ventania superasse os 70 km/h.
f) Chegamos a El Chaltén (cidade localizada dentro do Parque de Los Glaciares), por volta das 16 horas, sob temperatura de 14 graus. Estávamos convictos de que o início da noite era o melhor momento para fotografar o monte Fitz Roy, por conta dos efeitos rosados do pôr-do-sol. O que não sabíamos é que os melhores pontos para fotografia ficam fora da cidade, e só é possível chegar a eles caminhando. Os mirantes mais indicados estão entre 1 hora e meia a 9 h de caminhada. Escolhemos um "parador" acerca de 40 minutos da cidade (somente ida) para tentar tirar boas fotos. Iniciamos a subida de uma montanha bastante íngreme e, à medida que subíamos, o vento aumentava, criando sensação térmica de 8 graus. Conseguimos heroicamente, quase enfartados, chegar a um ponto satisfatório para fotografar o Fitz Roy. Olhem as fotos e confiram se o esforço valeu a pena (cliquem na imagem para ampliá-la)
g) Estamos hospedados no hotel Cumbres Nevadas (US$ 62; Nota 9), que contratamos pelo booking.com.

(fotos da réplica da caravela de Fernão de Magalhães, em Puerto San Julian e das montanhas de El Chaltén, particularmente do Cerro Fitz Roy)














DIAS 10 e 11 - EM EL CALAFATE - 
Segunda e terça - dias 19 e 20 de novembro. 398 km rodados, sendo 230 km de El Chaltén para cá e 168 km de ida-e-volta ao Glaciar Perito Moreno.
a) De El Chaltén a El Calafate é um pulo. Uma rota de 230 km com um visual de pirar. El Calafate é onde se localiza o Glaciar Perito Moreno, um dos cenários mais impressionantes que vi até hoje em minha vida.
b) Estamos no hotel Rochester El Calafate (Nota 10), contratado pelo convênio da Bancorbrás.
c) Não vou falar muito, porque as imagens falam por nós.
(fotos do Glaciar Perito Moreno e de outras belezas do lago Argentino)


















19 comentários:

  1. Grande viagem, maravilhosas fotos. Nem imagino o quão maravilhados vocês estão.
    Parabéns aos amigos corajosos em deixarem suas poltronas para viver tão lindo sonho!!

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  2. Que fotos MARAVILHOSAS, FANTÁSTICAS.
    Continuem nos brindando com esses espetáculos e fazendo ótimas viagens!

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  3. Simplesmente... FANTÁSTICO! Parabéns!

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  4. Que maravilha Flávio, parabéns pelas fotos e que bom que o Wandeco teve o corpo e alma acariciados pelos ventos da Patagônia. Privilégio de poucos motociclistas. Estamos aqui ligados. Abraços.
    Zael.

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  5. Em tempo: Embora ele esteja sempre sério nas fotos quem conheçe o Wandeco sabe o quanto ele está emocionado. Parabéns parceiros, grande conquista.
    Z.

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  6. RODRIGO MARTINS20/11/2012, 06:58

    É ISSO FLAVIO PARABÉNS A VIAGEM TA UM SHOW EM AS FOTOS ESTAO LINDAS.SEU RELATO ESTA SERVINDO DE INSPIRAÇÃO PARA MAIS UMA VIAGEM MINHA QUE DEPOIS DE CONHEÇER O ATACAMA AGORA EM OUTUBRO,COM CERTEZA USHUAIA SERA A PROXIMA

    RODRIGO MARTINS
    POÇOS DE CALDAS MG

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  7. Parabéns pessoal! Força aí contra os ventos e todas as agrúras do final do mundo!
    Flávio, devo ter sido um dos que falou que pegou algo como 100km/h de vento para vc! Heheheh.... Foi na 3, na região de Puerto San Julian e Piedra Buena. Na época nao tinha o skywatch. Mas na viagem do ano passsodo eu tinha, e medi 70km/h num dia lá na Bolívia e te garanto que tava MUITO mais tranquilo que o perrengue da Ruta 3! Hahaha. E dessa vez pegamos 93km/h...medidos sabe onde? Centro de Montevideo! Dá?
    Boa Sorte companheiros e juízo!

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  8. Grande Flávio, vocês são muito animados. Uma viagem deste tamanho de moto, fotos maravilhosas. Bon Voyage. Grande abraço

    Silvio - APO

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  9. Flávio e Wandeco, as fotos estão maravilhosas. Espero que o tempo não piore muito à medida que chegarem mais próximos do Estreito de Magalhães e de Serro Sombreiro. Pelo menos dessa vez, o Flávio deve estar com o equipamento de chuva. Quando fomos, Neila e eu ficamos muito preocupados com o Flávio e a Rosane, mas El Narigon tem sorte e as nuvens pareciam se abrir com a passagem da moto. Que a Força Maior esteja sempre com vocês

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  10. Que Deus proteja vocês! parabéns pelas fotos e pela coragem

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  11. É isso aí Flávio,
    Lindas imagens. Grande experiência.
    Prossigam viagem.
    Téo
    Os Desgarrados.

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  12. Gente, estou emocionada com as imagens, parecem pinturas de tão perfeitas que estão; Faço aqui a mesma colocação que o Zael fez em relação ao Gil, ele tem a aparência mais séria,mas a emoção está transbordando por dentro....diz uma amiga minha, que não é a primeira impressão que fica, mas a segunda impressão é que marca a pessoa do Gil!!!!achei ótimo.Desejamos aqui boa sorte para vocês dois e esperamos ansiosos pelo retorno!
    Um abraço aos dois!
    Fatinha

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  13. Flávio, Wander. Irmão, socorro na estrada é algo marcante e motivo de louvor a Deus. Sua pane seca, me faz retornar ao ano 2000 numa viagem para Salvador-BA; So tínhamos a Lethícia, hoje com 13 anos. Gol bola 1.8 com rodas PowerTech aro 15 perfil baixo, imaginem; mas era o nosso único carro, então buracos e mais buracos na BR 020 - Barreiras. Precisávamos andar a noite para chegarmos para um casamento, enfim pneu estourado duas vezes, sem estepe, paramos um caminhoneiro; até hoje não sabemos como aquele Sr. parou, los Argentinos também ficarão na memória dessa viagem maravilhosa. Grande abraço amigos.

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  14. Grande Flávio,

    As fotos são realmente incríveis! Ao vivo de deve ser maravilhoso!
    Aproveite bastante, tome umas Quilmes por mim e não esqueça de abastecer!
    A CGPM está orgulhosa pela sua aventura.

    Abraço,
    Luciano

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  15. Grande Flavio Carijó, cuidado com andor "minino" que o santo é de gelo. Não sou de comentar mas realmente é um lugar onde se deve chegar. Parabéns amigo, Abraços,bom regresso,
    PIVETE

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  16. Fal, querido...claro que valeu a pena o esforço para conseguir nos mostrar o Fitz Roy tão lindamente...as fotos do Perito Moreno ficaram, também, maravilhosas...me deu saudades de alguns desses lugares e vontade de conhecer outros que ainda não fui...continue feliz...aproveite cada momento...pilote com cuidado...estamos te esperando com saudades...beijos...Rosane

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  17. Kkkkk... Quem diria, meu caro Farofa de "pane seca!!!" Rsss
    Mas, acontece nas melhores famílias e com os motoaventureiros mais experientes... Inclusive mais de uma vez comigo em 2009, com a velha Blue Seagull (XT66). Com vento ou sem vento, com frio ou sem frio, o que importa é que estejam curtindo, se divertindo e compartilhando essa grande viagem, sempre com muitas descobertas e oportunidades de crescimento e evolução. Principalmente os laços de confiança e amizade.
    Aproveitem,
    Abração....

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  18. Belo relato, bela viagem, só não entendi uma coisa, porque passar por Rivadávia na ida, não tinha um caminho direto????? Parabéns pelo blog.

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  19. Viver em cima de uma motocicleta não tem preço.

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